O arrastão deu inicio as primeiras pesquisas em 2015 em Fortaleza durante processos de composição coreográfica, realizadas por Edvan Monteiro, dentro do projeto Trajetos EnCena para a Bienal Internacional de Dança do Ceará. Retomando em 2016 como uma residência, em caráter de incubadora em parceria com o Laboratório de corpo e arte da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo – Campus da Baixada Santista) não somente revisitando o processo anterior, mas criando novas possibilidades de estudo. Esse trabalho compõe a trilogia “Naturam Corporis” de espetáculos, é o primeiro da série que envolve o estudo do movimento do corpo coletivo, bruto, resistente e suas peculiaridades. Todas as ações propostas na construção desse trabalho acontecem a partir da ideia de resistência e ambiguidade, criando caminhos a cerca das constantes mudanças geradas nos estudos de fluxo, tempo e espaço. Toda a pesquisa desenvolvida nessa residência artística tem como resultado um corpo que protesta contra o sistema politico atual, alienado e conectado as fake news e tem como base um corpo que se permanecesse em grupo, criando rastros no espaço, dilatando o tempo e com a ideia de causar no espectador uma inebriante onda de contaminação gerada pelos corpos em movimento coletivo. O trabalho entrelaça e emerge questões urgentes dos nossos tempos, traçando narrativas próprias e coletivas nos corpos. Os assuntos gritam contra o machismo, o racismo e qualquer forma de preconceito. Levantam protestos políticos de forma escancarada e traz em sua base a coletividade entre os diferentes como o caminho possível em tempos tão hostis e individualistas.
Aquilo que arrasta é uma multidão de corpos pulsando o estar junto como a saída para a permanência. Aquilo que arrasta afronta o comum coletivo, assustado pela potência da união que move ações de diferentes naturezas. Arrasta e desestabiliza a ordem, escancarando as falhas de um sistema excludente e de privilégios para poucos; um sistema que escraviza e rotula as pessoas, um sistema traiçoeiro que quer calar nossas bocas a qualquer custo. Arrastar para destampar, para desnudar e escancarar corpos imperfeitos e suas marcas, afim de libertá-los em suas potências.
ARRASTÃO é uma intervenção artística realizada em espaços públicos - lugar de todxs - por corpos que lutam para conseguir ocupar seus espaços, físicos e metafóricos. Resistir é a palavra de ordem a estes corpos que se esforçam violentamente para arrasta. Corpos que agem sobre e sob outros corpos, através do contato físico direto ou de interfaces digitais. O espaço torna-se território de atravessamentos e o público é convidado a observar os corpos que pulsam, expulsam e expurgam. Ainda que, em alguns momentos, brinquem com a gravidade (não só aquela referida como uma das forças fundamentais da natureza, mas principalmente a dos fatos atuais), estes corpos acabam sempre retornando à realidade, ao chão áspero, rígido, sólido. "ARRASTÃO" é uma massa sovada de corpos. É um angu com sabor, aroma e textura de gente. É uma manifestação de corpos porosos, dispostos e disponíveis a passagens fluídas.
Direção: Edvan Monteiro e Ariadne Filipe
Coreografia: Edvan Monteiro
Elenco: Angélica Evangelista, Ariadne Filipe, Débora Zanluca, Gisele Prudêncio, Tamara Tanaka, Bruno Henrique, Caio Rodrigues, Felipe Faustino, Gabriel Rosário, Lucas Onofre e Rodney Cardoso.
Produção: Ariadne Filipe